A Canábis é hoje vendida em qualquer esquina, sem a mínima preocupação ou respeito pela saúde, pela vida, nem pela mente dos utilizadores, apenas visando a maximização do lucro. A multiplicação de meios para consumir canábis, de utensílios feitos unicamente para aumentar a quantidade ingerida ou intensificar a concentração de THC, está a provocar danos que nunca antes aconteceram.
Precisamos de soluções que se adaptem à sociedade actual, ou seja, se se consome que seja com regras e limites que diminuam os danos. Afinal, não se proíbe a condução automóvel, apesar dos milhares de mortos, nem sequer se proíbem as gorduras animais, apesar dos milhões de ataques cardíacos, mas, se regularmos, diminuímos os danos consideravelmente.
A "Sociedade Moderna" nunca mais voltará a ser uma sociedade sem drogas, por isso temos de aprovar uma solução legislativa que faça a ponte entre a saúde e a segurança, com os direitos da enorme percentagem de portugueses adultos que consomem canábis, protegendo o interesse nacional, desde o fiscal ao ecológico, do económico ao profissional.
As grandes companhias internacionais visam apenas maximizar o lucro e diminuir os custos, por isso anunciam que em Portugal quase não precisam de pagar impostos, que irão reduzir os custos, pois as multinacionais estão a usar cada vez mais robôs para fazer o trabalho agrícola, o que prova que a “propaganda” de aumentarem o investimento e o emprego já não constituem aumento de riqueza para o país.
Portugal não tem nenhuma vantagem em continuar a promover as multinacionais, bem pelo contrário, até as importações de canábis irão aumentar. Por outro lado, entregar às farmácias a distribuição da canábis para uso adulto seria o mesmo que obrigar um empregado de balcão de farmácia a conhecer todas as "disciplinas" que envolvem a "licenciatura" em canábis. Estaremos a pedir aos farmacêuticos algo similar a gerir um bar no interior de uma farmácia.
A quem poderemos então entregar a responsabilidade de gerir todo o know how canábico, com conhecimento da sua utilização, permitindo aos cidadãos ter acesso à substância num local de utilização protegido, adequado, gerido com formação, experiência prática e conhecimento necessário para entender a complexidade envolvida, promovendo o consumo sem danos?
A melhor forma é, sem dúvida, a solução associativa. Afinal, são os próprios cidadãos interessados e responsáveis que devem gerir melhor o acesso e a utilização de canábis. O crescimento de uma sociedade reflecte-se na forma como todos os cidadãos se envolvem no desenvolvimento do interesse público.
A Suíça, por exemplo, exige que apenas quem tenha vários anos de conhecimento prático de canábis possa trabalhar nos espaços de consumo.
Apesar de em Portugal, há mais de um século, se colocar tudo nas "costas do Estado", reconhecendo o conhecimento apenas aos médicos ou aos padres, pois só eles tinham inteligência para aconselhar, a verdade é que a sociedade portuguesa evoluiu muito. O tempo em que monárquicos e republicanos aceitavam um Portugal assente numa população maioritariamente inculta, iletrada, dedicada unicamente à agricultura de subsistência, morreu! Nas últimas décadas, a população portuguesa formou-se e cultivou-se imenso. Por isso, não podemos continuar a ser um país de analfabetos, para sermos um país de ingénuos, continuando a atribuir "cartas verdes" à classe médica, ao serviço da indústria farmacêutica internacional ultra gananciosa e cujos administradores foram, na última década, substituídos pelos accionistas de capitais provenientes de cartéis e paraísos fiscais.
Agora, os portugueses estão preparados para ter um país com muito mais participação dos cidadãos e, tal como o exemplo nórdico e suíço, serão os grupos de cidadãos organizados e associados, em colaboração com a supervisão pública, que irão gerir a sua vida em comunidade. A canábis associativa é a única via que concilia o cidadão com o Estado, que irá proteger e desenvolver com justiça e equidade a canábis neste país, ao qual todos nós chamamos Portugal.