A Canábis tem pelo menos 750 compostos e cerca de 104 canabinóides distintos, sendo os principais o THC (tetrahidrocanabinol), o CBD (canabidiol) e o CBN (canabinol). O THC é o principal responsável pela actividade psicoactiva da canábis, actuando no sistema nervoso central e exercendo efeitos a nível mental e comportamental. Outros canabinóides, como o CBD, modificam e regulam os efeitos psicoactivos do THC. O CBD não é considerado um componente psicotrópico, nem parece causar dependência. Inclusive, alguma evidência aponta efeitos benéficos do CBD para a saúde pelas suas propriedades antipsicóticas, ansiolíticas e anti-inflamatórias, embora esta ainda seja muito limitada.
O uso de CBD para fins não-medicinais tem vindo a aumentar nos últimos anos, sendo as principais motivações apontadas para o seu consumo a procura de bem-estar e relaxamento, lidar com desconforto físico (e.g. dor, náuseas) e mental (e.g. depressão, stress e insónias), ajudar a gerir os efeitos do THC e a falsa percepção de legalidade destes produtos.
CBD é legal em Portugal?
A produção e comercialização de canábis para uso industrial (ou cânhamo) é permitida em Portugal, desde que o produto apresente uma percentagem de THC menor que 0.2%. No entanto, a comercialização de produtos de CBD ou de baixa-concentração de THC para consumo humano não está regulamentada. A legislação portuguesa que define os limites quantitativos máximos para cada dose média individual diária de canábis (flores, resina, óleo) não distingue entre produtos com alta ou baixa concentração de THC. Nesse sentido, há uma grande incerteza em relação à composição e qualidade dos produtos vendidos como CBD em Portugal.
Mas, se o CBD não é uma substância psicotrópica, nem causa dependência, quais os riscos associados?
Um número crescente de evidências reporta que os produtos com uma maior proporção de CBD para THC são, à partida, menos prejudiciais para a saúde: diminuem a probabilidade de desenvolver problemas psicológicos associados ao consumo de canábis (ansiedade, sintomas psicóticos, etc.) e são menos aditivos. Alguns profissionais sugerem a substituição de canábis com elevada percentagem de THC por um produto com menores percentagens como uma estratégia de redução de riscos. No entanto, a definição da dose varia de pessoa para pessoa e de factores como o peso corporal, a qualidade e concentração do produto e a motivação para o consumo. Adicionalmente, apesar dos seus potenciais benefícios, o CBD que circula nos mercados não-medicinais pode não ser seguro nem eficaz para toda a gente. Alguns dos factores de risco descritos são1:
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Determinados produtores não cumprem as percentagens limite de THC presentes nos produtos com CBD, podendo haver discrepâncias entre a quantidade mencionada no rótulo e a real, levando a possíveis consequências legais;
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A qualidade destes produtos varia muito e alguns produtos podem conter contaminantes (e.g. produtos agrotóxicos) potencialmente carcinogénicos acima dos níveis regulamentados pela Comissão Europeia para óleos e suplementos alimentares;
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Em alguns países têm surgido flores e líquidos vaping vendidos como CBD que contêm canabinóides sintéticos, aumentando os riscos associados ao consumo destes produtos;
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O CBD pode interagir com os efeitos de outras substâncias depressoras (por exemplo, álcool), certos medicamentos e pode também ter impacto em algumas condições físicas e mentais, pelo que é conveniente consultar um/a profissional de saúde antes de iniciar o consumo desta substância;
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Há poucas evidências sobre os seus possíveis efeitos e consequências resultantes do consumo não-medicinal frequente e continuado de CBD
Para mais informações sobre estratégias de redução de riscos associadas ao uso de canábis, contacta-nos ou consulta a nossa página.