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Crónicas

21 Mar 2021

O Ergot

O Ergot ou esporão do centeio (Claviceps purpurea), é um fungo que parasita este cereal, contaminando os seus grãos. Na ingestão de farinha contaminada com grãos ergotizados o organismo sintetiza ergotamina, resultando em efeitos alucinogénicos e contracção dos vasos sanguíneos (vasoconstrição). Os efeitos alucinogéneos imediatos estão na base da descoberta do LSD a partir do Ergot, por Albert Hofmann em 1943. Já o efeito a longo prazo do envenenamento por Ergot é denominado por ergotismo, uma fatal doença cujas epidemias marcaram a história medieval Europeia e não só.

 

Os sintomas de ergotismo incluem convulsões, perda de consciência, periferias do corpo pálidas, pouco irrigadas e sem sensibilidade, edemas, etc. A doença pode avançar para gangrena seca, com a perda de membros ou, pior, afectar a zona abdominal, levando a coma e morte. Esta doença era na Idade Média conhecido como “Foga Sagrado” ou “Fogo de Stº António”, santo egípcio, padroeiro das vítimas destas epidemias, tendo os monges da ordem deste santo ajudado as vítimas, incluindo com dietas livres de centeio.

 

Curiosamente ou não, desde há muito tempo que o centeio é conhecido como o cereal dos pobres, não sendo tradicionalmente consumido pela alta nobreza. É muito provável que a possibilidade de contrair ergotismo tenha contribuído muito para esta diferença nos cereais consumidos por uma e outra classe social. Apesar de já ser conhecida há muitos séculos, o desconhecimento da maioria da sociedade acerca desta epidemia pode ter levado a interpretações místicas acerca da mesma, o que até se subentende nas denominações que lhe eram atribuídas. 

 

A análise de registos históricos demonstrou uma grande coincidência entre os Verões mais húmidos, mais propícios a surtos de ergotismo, e as fases mais intensas de “caça às bruxas” e de maior número de condenados à morte por “bruxaria”. No célebre episódio das Bruxas de Salém, ocorrido em 1692/93 nos Estados Unidos, os sintomas tomados na altura como “possessão demoníaca” em tudo se assemelham aos de um surto de ergotismo convulsivo, extremamente provável nessa região e época.

 

Existem indícios que tenha havido uso ritual deste fungo, pela ingestão de bebidas a partir do mesmo, havendo quem especule que fosse esta a substância presente nos Mistérios Eleusianos, rituais de iniciação espiritual, praticados na Grécia Antiga. Porém não é possível provar que fosse esta a substância presente as bebidas que os iniciados tomavam. Havendo muitas outras hipóteses igualmente plausíveis. De qualquer modo, existe uma referência assíria ao Ergot que data do século VI a.c., identificando-o correctamente como uma praga cerealífera. 

 

Apenas no século XIX a ciência moderna identificou o Ergot mas mesmo assim outros surtos epidémicos aconteceram depois disso, tendo o último surto na Europa acontecido em 1951, em França, tendo provocado 4 mortes e têm continuado a acontecer em países menos desenvolvidos, como na Etiópia em 2001.
O uso de pequenas doses de Ergot para apressar a saída de um feto do útero, induzindo aborto ou não, e para estagnar a perda de sangue pela mãe, é historicamente muito antigo. Actualmente, além desse uso, o Ergot é também usado em medicamentos contra enxaquecas.

 

O “Fogo Sagrado” ou “Fogo de Santo Antão” ou “A tentação de Santo Antão” (tríptico, óleo sobre madeira 131,5 x 225 cm),  inspirou obras de arte ao longo da história. A mais conhecida são os painéis a óleo, dos inícios do século XVI, da autoria do holandês Hieronymus Bosch. Denomina-se “A tentação de Santo António” (tal como a versão posterior de Dali). No original de Bosch habitam numerosos pormenores do domínio do fantástico, resultando num cenário intrigante e delirante, na qual se destaca por contraste a postura serena de Santo Antão.

 

Este famoso quadro encontra-se no seu original no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa. 

 

Museu Nacional de Arte Antiga
Morada: Rua das Janelas Verdes
1249 - 017 Lisboa
Telefone: (351) 21 391 28 00

Website: http://www.museudearteantiga.pt/



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