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21 Dez 2021

Entrevista Pure Healing: "O dia que legalizem isto em Portugal, vamos virar agricultores"

A história da Pure Healing começou com a avó de Sérgio, a mãe de Marina e o pai de Ricardo, que sofriam de patologias que poderiam beneficiar do tratamento com canábis. Depois de terem tratado os seus familiares com algo que, na altura, era, ainda, ilegal, Sérgio Neto, Ricardo Morais e Marina Penim quiseram partilhar com outros pacientes o que tinha funcionado com os seus familiares.

 

 

 

São uma das poucas empresas 100% portuguesas com licença do Infarmed para a produção, cultivo e exportação de canábis para fins medicinais. Empresa familiar, a Pure Healing já criou 13 postos de trabalho e tem perspectivas de crescimento para a sua plantação de 5 mil metros quadrados, perto de Alcácer do Sal.

Visitámos a plantação da Pure Healing e falámos com os três responsáveis da empresa, para ficar a conhecer um pouco mais da sua história e de como chegaram até aqui.
 

 

Existe um mito de que só as multinacionais é que conseguem investir na canábis medicinal em Portugal… mas estamos aqui com três portugueses, que constituíram uma empresa 100% portuguesa, conseguiram a licença do Infarmed e já estão a produzir. Como é que foi este processo?

Sérgio - Foi muito giro, na verdade.
Ricardo – Tem sido muito divertido. Todos nós tínhamos uma vida passada e ela não tinha nada a ver com agricultura, com canábis, com óleos, com nada disso, e tivemos que fazer aqui o nosso "salto de fé". É aquilo em que nós acreditamos, a nossa missão e a nossa visão. E chegados aqui, com o ADN que nós temos e a família que conseguimos criar, acho que só temos razões para agradecer, todos os dias da nossa vida. Não é fácil, mas podia ser pior.
 

Como é que a canábis entrou nas vossas vidas?

Sérgio - Foi por questões tristes, infelizmente, doenças de familiares nossos. Os pais do Ricardo, a mãe da Marina e a minha avó tinham patologias sem uma cura propriamente dita, não tinham um tratamento ou um diagnóstico que fosse claro. Então começámos a investigar, cada um à sua maneira, e demos connosco a ver crianças a serem tratadas nos Estados Unidos e no Canadá com extractos à base de canábis. E arriscámos, começámos a mandar vir óleos. No caso concreto da minha avó, que tinha leucemia, isso tirou-a da cama. Ela era um vegetal com 40kg, que não se alimentava e que não vivia. Estava mesmo à beira da morte e foi toda uma vida nova. A introdução do CBD tirou-a da cama, deu-lhe vontade de viver; a introdução do THC deu-lhe mais oxigenação no sangue, tirou-lhe o cansaço, deu-lhe apetite, deu-lhe ânimo e ela voltou à sua vida normal. Voltou às aulas de ginástica, de hidroginástica, andava muito zangada com os velhotes que não a deixavam ir às aulas de canto, porque não sabia cantar, mas ela sabia as letras, e estes eram os dramas da minha avó na fase final da sua vida. E foi muito por isto que tudo começou. Quando chegou 2018 e se regulamentou a questão da canábis, abordámos o Infarmed e dissemos, muito claramente: "Já fazemos isto para a nossa família, agora queremos ser uma empresa." O Infarmed enviou-nos um email com todos os requisitos a cumprir na altura e partimos daí.
 

Foi difícil esse processo com o Infarmed?

Marina - Demorado, principalmente, e muito criterioso. 

 

Esta é a vossa primeira colheita?

Ricardo - Para fins comerciais, sim. Já fizemos outras plantações aqui, tanto a nível de outdoor como na estufa, mas foi para testes.

Marina - Tivemos de formar a equipa, aprender com cada planta, assimilar processos, afinar as infraestruturas, determinar necessidades, validar equipamentos e tudo o mais e, portanto, o investimento neste cultivo foi exactamente com esse fim.

Sérgio - Isto porque também não é fácil encontrar pessoal qualificado em canábis. Não há licenciaturas, não existem cursos técnico-profissionais, existem as formações online, algumas de qualidade relativamente duvidosa e, ao fim e ao cabo, tivemos que montar uma equipa, que fizesse parte do ciclo da planta, de A a Z.
Marina - Que soubesse identificar pragas, animais benéficos para planta e, portanto, cada dia foi uma aprendizagem muito importante para o sucesso que se espera alcançar.

 

E aprenderam de raiz a plantar canábis?
Sérgio - Do zero! Nós acreditamos que para saber mandar é preciso saber fazer e, portanto, não fazia sentido montar uma empresa e não saber fazer a coisa. E foi mesmo por aí que começámos: a explorar, a investigar, uma semente, duas sementes, uma terra, outro substrato, um adubo, um fertilizante, um orgânico, um químico, e chegámos à nossa fórmula, que, infelizmente, no início era feita de forma ilegal, devido às contrariedades da legislação portuguesa. E se aprendemos a fazê-la de forma orgânica e com qualidade para a nossa família, é o mínimo que queremos para as outras pessoas, porque estamos a produzir um medicamento que alguém irá consumir.
 

Ganharam, então, experiência por força das circunstâncias.
Sérgio - Verdade! Ou era isso e éramos criminosos, ou então íamos comprar não-sabemos-o-quê, não-sabemos-onde, ao bairro, e trazíamos um saquinho de orégãos como se fosse um saquinho de canábis, trazíamos relva seca a pensar que era canábis com CBD… E isso não, de todo! 

Ricardo - Aliás, o nosso problema - e é assim que nós chegamos ao cultivo – começa precisamente por aqui. O meu pai e a minha mãe tinham doenças que entravam nesse portfólio e a minha principal dificuldade foi "Onde é que eu vou arranjar um produto de confiança, que me dê garantias a nível de consumo?" "Bem, vou plantar a planta, tentar aprender e pelo menos aí consigo ter garantias da origem e daquilo que eles estão a tomar.” O Sérgio também foi confrontado com esta dificuldade e daí termos começado, por necessidade, a cultivar, a conhecer, a plantar e pronto, já lá vão alguns anos. Depois, como é óbvio, fruto deste estudo e desta exploração, acabámos os dois por ganhar aqui um carinho e uma paixão à planta e a toda a sua potencialidade, tanto que, em tom de brincadeira, muitas vezes dizíamos: "Um dia que legalizem isto em Portugal, vamos virar agricultores." A partir de 2018, com a legalização da canábis medicinal, isso permitiu-nos concretizar esse sonho e chegar até aqui. 

 

Qual foi o investimento que fizeram?

Marina - O investimento em termos humanos é total, 100% ou 1000%. A nossa entrega é diária e muito profunda. O investimento monetário, pois, é significativo face às estruturas que temos e são valores consideráveis.

Sérgio - O número concreto preferimos não dizer, mas está acima de um milhão de euros. Isso podemos dizer, sem segredos. 

 

E como é que conseguiram esse milhão de euros?
Ricardo - Nós recorremos a várias ferramentas. A nossa ideia não era só arranjar um investimento, mas precisávamos também de constituir uma equipa de trabalho, porque o dinheiro, por si só, não faz nada. Recorremos a fundos que se podem dizer comunitários e, entretanto, conseguimos, junto de um parceiro, uma instituição bancária, a abertura para nos financiar, além do financiamento particular.

Sérgio - Nós temos uma condicionante: somos cultivo de canábis. Se nós tivéssemos um braço estendido para a parte da extracção, da purificação, aí entravam outras componentes, tecnológicas, de investigação e de desenvolvimento, que alavancavam o ir buscar outros capitais comunitários. Como não temos, isso invalidou também, de certa forma, a nossa actividade para essas candidaturas. 

Ricardo - Também acabou por dificultar, e não é mentira nenhuma, o facto que nós gostávamos, independentemente do investidor, de manter a nossa essência, a filosofia e a estratégia com que o projecto foi desenhado... e poder aportar a bandeira de Portugal neste projecto a 100% também era algo que nos deixava orgulhosos. 

 

Esta é uma aldeia muito pequenina, vocês sentiram-se acolhidos pela população?

Sérgio - Ao princípio houve um bocadinho de resistência, pelo facto de não somos “filhos da terra”... Mas assim que as pessoas perceberam o que é que estávamos aqui a fazer e o que pretendíamos, a coisa começou a desmistificar. E, também, quando arrancámos com a equipa de segurança, curiosamente,na sua maioria, formada por locais, acabou por haver aqui um espalhar da mensagem, que foi muito favorável para nós.
Marina - Sentimo-nos acolhidos com carinho por parte de todos. A ligação com os moradores é muito simpática, são pessoas que passeiam aqui à volta das instalações e têm sempre uma palavra de deferência connosco. É bastante agradável, realmente, a relação que estabelecemos com os locais. 



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